Casinha de Madeira, 14 de Dezembro de 2040.
Querida Rô,
O Sol está se pondo todo cheio de bondade. Observando ele daqui percebo como delicadíssimo é o tempo. Sinto-me como um sopro leve que viu tantas e tantas vezes o Pôr do Sol. Esse doce brilho que tanto aquece.
Estou na varanda, há calmaria aos arredores da casa. Posso ouvir o som delicado da Natureza. O vento bate sobre minha pele já não tão jovem, mas a feição permanece a mesma. A brisa é tão suave como um afago. Estou sentada na cadeira de balanço feita de palha. Hoje coloquei aquele casaco de lã azul claro com rendas nas mangas e na gola. Ainda leio sobre Coco Chanel.
O chá de pêssego adocicado com mel faz companhia nesse entardecer tão sereno. Ouço alguém cantarolando lá dentro: “E aí, larari larari larari larara.”
Você saberá quão maravilhoso ter alguém de gestos tão sublimes por perto.
Ando tão leve. É admirável o bem que tudo isso me faz.
Uma vida simplesinha exatamente do jeito que você sonha, Rô.
Trago comigo tudo que foi bonito, tudo que me fez forte e o que me fez fraca também... É tão precioso o que guardo na caixinha da vida... Quando a abro risos esquivam. Há momentos tão ternos aqui dentro.
Pois bem, minha querida, há momentos difíceis nessa vida não é mesmo? São tão difíceis que a gente até pensa que eles vão durar pra sempre, mas isso não é verdade. Sei exatamente o que sentes... As nossas dores duram o tempo necessário para nos tornamos mais maduros, mais fortes e acredito que mais espiritualizados também.
Se há algo de bom em mim, isso reflete no que você é agora, no que têm nos instantes mais bonitos de suas orações e da forma como ver o mundo.
Sem essa essência nada terá sentido.
É preciso que você fique bem aí pra que as coisas aconteçam de forma serena por aqui. Entende?
Sei que levará tempo até que compreenda... As reticências!
Por isso, peço que fique bem... Ei, o Verão está chegando! A estação preferida.
Faça-se paz... Faça-se luz tudo ao seu redor para que essa mesma paz e luz cheguem até aqui da forma mais bonita que possa existir.
Disso que preciso.
Ah, têm dias que a gente acorda assim, com vontade de receber carinho, mas carinho da gente mesmo. Não do nosso eu agora, mas do eu que acredito ser um dia: Espiritualizada e afável. Quero que esse carinho te faça acreditar que a felicidade está logo ali e que a qualquer momento ela vai aparecer igual criança arteira atrás da porta pronta pra te dá aquele sobro de susto bom, só pra ter o prazer da felicidade plena.
Felicidade plena... Existe!
Agora vou colorir Mandalas em papel canson e continuar tomando chazinho de pêssego adocicado com mel. Adocicado com ternura.
Com afeto, Rô.
[Por, Rô]